sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Ainda sobre a academia

Fazia muito tempo que eu não escrevia nada por aqui. Para falar a verdade, não escrevia em lugar algum. Se bem me recordo, a última vez em que escrevi foi quando o professor de técnicas pediu que cada um da minha turma fizesse uma reportagem com 10 mil caracteres, que rechearia nosso impresso laboratório.Isso foi em setembro. Nada mudou de lá para cá. O período letivo chegou ao fim, e, com o arrependimento que previ ainda no começo do ano, lamento-me nestas linhas.
É frustrante fazer um retrospecto dos últimos 9 meses e chegar à conclusão de que, por fraqueza, covardia, comodismo, ou qualquer outro adjetivo que couber, deixei de lado muito do que me era útil e necessário. Abandonei uma disciplina somente porque não quis me sujeitar às madrugadas prostrado ao computador e ao minucioso crivo das monitoras de diagramação. Para justificar essa decisão, eu disse que utilizaria o tempo livre para me dedicar decentemente às demais matérias, escrever no blog, ler mais, essa coisa toda.Não fiz nada disso. Tudo o que consegui foi me aperfeiçoar na arte da procrastinação, foi inventar desculpas imbecis para as atividades não realizadas, para os textos não escritos, foi respaldar todo o meu desleixo em justificativas que eu considerava relevantes, mas que não eram válidas.
Não sei o que desencadeou o desânimo de que fui refém durante todo este ano. O fato é que larguei as rédeas, apenas observei a banda passar, deixei minha vida acadêmica ao deus dará. Penso que muito disso seja por conta do fantasma que ainda hoje, às vésperas do penúltimo ano de faculdade, sussurra aos meus ouvidos que isso não é para mim. Se estava correto em escolher jornalismo como graduação e dizer que isso era o que eu queria fazer pelo resto dos meus dias, ótimo. Se não, ainda vou descobrir.
Bom é saber que sempre existirá um universo de possibilidades. Melhor ainda é recordar que, na contramão de minhas insatisfações enquanto estudante, dois mil e dez reservou-me belas surpresas em outras esferas. A melhor delas foi a que me salvou o ano, mas isso é assunto para um outro dia.

sábado, 17 de julho de 2010

Sobre minhas falhas enquanto estudante


Eu estava querendo algo que me desse respaldo, algo que legitimasse minha conduta, me livrasse de algumas obrigações e ao mesmo tempo trouxesse paz. Não encontrei nada senão as censuras de minha auto-condenação. É que eu cansei, sabe? Cansei das cobranças que incidem sobre estudantes medianos. Sim, eu sou um aluno medíocre. Não me comprometo, não leio bibliografias, estudo a poucos minutos antes das provas e às vezes nem estudo. Gostaria de frequentar disciplinas optativas, participar de projetos de pesquisa, escrever nesse blog de forma decente, atuar mais como um ser pensante em plena vida universitária. Mas isso exige o tempo de que não disponho. Aliás, faço minhas as palavras de Viviane Mosé, digo que ando exercendo instantes.
Tão ligeiros têm passado os meus dias que volta e meia esqueço na cama a força e a disposição. Há que se trabalhar, render, prestar contas, pagar contas. Família e amigos estão aí e reclamam atenção. A solidariedade tem que acontecer eu faço questão disso. Viver implica uma versatilidade capaz de transtornar e fadigar qualquer um. Exige-se sorriso, abraço, irreverência, presença. Momentos depois, prudência, sisudez, responsabilidade. Daí que por não saber lidar com tantas variantes, acabo relegando o que deveria ser prioridade.
Talvez eu me arrependa por ser tão negligente. Prefiro acreditar que, assim como aprendemos, somos seres adaptáveis. Quanto tempo leva esse período de adaptação? Não sei. O meu tem se arrastado já há um ano e meio.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Estranha e intrigante Marília

Marília não era do tipo que bebia café, não gostava de música alta e tampouco reclamava dos ônibus lotados que todos os dias tomava. Marília não navegava na internet, mantinha apenas o e-mail profissional que checava sem vontade duas vezes por dia. Antiquada, a moça não tinha telefone celular. E também não havia razão para tal. A jovem de 27 anos vivia sozinha na cidade e seu amigo mais chegado era Napoleão, o simpático basset com quem vivia no pequeno apartamento.Ela também subia uma ou duas vezes por semana ao andar de cima do prédio. Gostava de emprestar livros e hora ou outra jogar cacheta com o casal de vizinhos, Joanana e Martinho. Não se ouvia Marília cantar, praguejar, nem mesmo bater a porta. Sua feição era sempre a mesma, inexpressiva. Embora trabalhasse no escritório há três anos e meio, o comportamento de Marília ainda suscitava muitos comentários. Uns diziam que ela tinha vida sexual frustrada, como de fato tinha, mas por opção própria. Outros diziam que ela vinha de algum trauma de infância. Havia ainda a parcela de fuxicos que afirmava que a jovem tinha vocação para freira. Tolo engano. O cabelo embaraçado sempre preso e os óculos de armação pesada encondiam a perspicácia de uma mente frenética. Marília raramente dizia algo sem antes ser perguntada, preferia calar. Apesar de não verbalizar a maioria de suas impressões, Marília tinha, sim, muito a dizer. Acontece que ela julgava não valer a pena. Seus olhos percorriam toda e qualquer superfície, eram viciados em notar imperfeições e cores destoantes. Mas o resultado de todas as suas análises ela guardava para si. Não compatilhava nada. Desde o verso bonito de algum importante literato até o gosto da manga verde que adorava comer com sal. Marília sabia que havia algo errado. Não era possível que ela se bastasse daquela forma. Apesar da aparente insanidade, a moça adorava o seu jeito. Adorava gargalhar por dentro. Adorava ouvir seus gritos ecoando por entre os órgãos a partir do cérebro. Adorava vomitar sua ironia por sobre a mesa do chefe e enfeitar as ruas cinzas com as cores de seus pensamentos. Marília adorava ser assim, rica e sozinha, estranha e intrigante.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

"Primavera nos dentes"



Hoje essa letra fala por mim:



Quem tem consciência para ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa a contra-mola que resiste
Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade decepado
Entre os dentes segura a primavera
(Secos e Molhados)



Quem sabe também a minha boca exale o perfume das rosas...

domingo, 25 de abril de 2010

"Sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada"


Não há mais nada aqui dentro.
Não há vestígios da mente outrora super povoada.
Não há mais o barulho das risadas, tampouco o som das ideias pipocando.
Aqui já não há vontade nem prazer, senão o artificialmente produzido.
Ah, e onde foram parar as antigas aspirações?
Quem levou embora a minha certeza e apagou a luz ao sair?
O que me resta dos velhos hábitos é suficiente para me manter são?
Ainda existe inocência? Ainda há redenção?
Não sei. Como eu disse, roubaram minha certeza.
Por aqui não há mais nada. A não ser o arquétipo malsucedido do bom rapaz.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Pergunta


O que fazer quando a dor latente extrapola o espaço que habitualmente ocupa e escorre através dos olhos?
O que dizer sobre tanta ausência, sobre tudo o que poderia ser e que não foi?
Sinto falta. Falta dos conselhos que nunca pude ouvir, das censuras que nunca recebi, dos abraços de que necessitei e que jamais serão restituídos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Minha de novo

Vamos, entre
Não tenha medo, sente
Acabe com este silêncio, fale
Pensando bem, cale


Em meu rosto habita tanta dúvida, mire
E em seu dorso, o peso da culpa, mas tire
Não falaremos sobre nossos embates agora, adie
Essa noite é de deleite, então aproveite


O quarto ainda é o mesmo, se achegue
Nossa cama continua refúgio, deite
Não precisamos nem de prelúdio, apenas deixe
Hoje o meu corpo clama pelo seu, por favor, o aceite

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Redentora Visita



Acordou com aqueles olhos de ressaca, vermelhos e inchados como se tivessem dormido por semanas. Parou ante ao espelho do banheiro sujo. A imagem que via era a de um sujeito magro, de braços finos e longos, dentes amarelos e cabelos que lhes caíam até as maçãs do rosto. Lavou a face coberta de pêlos ralos, bebeu água direto da torneira e mijou todo o resultado da noite passada. Cuspiu para o vaso o gosto amargo da boca e, por um momento, pediu que a descarga levasse também algumas de suas memórias.
Na cama novamente, acendeu e tragou seu cigarro barato. Logo na primeira brasa imaginou o quão eficaz seria ter, assim como o urinol, um dispositivo que expelisse toda sorte de excrementos. Resíduos fétidos não absorvidos de seus desamores, relacionamentos malsucedidos e frustrações diversas. Pensou estar delirando.
Abriu as cortinas para verificar se o mundo lá fora estava tão desajustado e mórbido quanto ele o estava. Através da janela observava-se um céu em dégradé, que ia do azul turvo ao cinza triste. Os automóveis, a poucos metros do pequeno edifício de três andares, corriam mudos e pareciam não ter sentido. As pessoas apressavam o passo para fugir da chuva que se aproximava e não olhavam umas para as outras. Pareciam formigas desorientadas e vacilantes.
Alheio ao movimento da rua, tragou o cigarro até o filtro e jogou a bituca na calçada, sem ao menos ter o cuidado de não acertar alguém. Olhando para o nada, achou que o dia combinava com um acontecimento incomum, que agitaria a vizinhança e lhe safaria de sua própria existência. Quis acabar-se na grama do jardim do condomínio. Riu de sua tolice quando se deu conta de que morava no primeiro apartamento logo após o térreo.
Saiu da janela e vestiu o jeans surrado que amarrotava-se junto à parede. A campainha soava delicadamente. Abriu a porta sem espiar pelo olho mágico. Ensaiou uma expressão de surpresa ao deparar-se com a velha mãe, que trazia no rosto um enorme sorriso terno. A mulher entrou, olhou para o filho com os olhos que melhor traduzem a beleza das coisas. Tirou da sacola de feira um potinho com bolinhos de chuva ainda quentes. Acredite, ela fazia os melhores. Tirou também um embrulho, pediu que o filho abrisse. E ele o fez. O que era? Lembranças. Amáveis lembranças envoltas num papel vermelho brilhante. Recordações que cheiravam a pipoca, groselha e maçã do amor. O rapaz rendeu-se às lágrimas. Acariciou o Fusca preto que certo dia ganhara no tiro ao alvo, no parque de diversões que havia se instalado no bairro em que morava. O brinquedo estava perfeito. Ao contrário dele, conservara ilesa toda a simplicidade e a inocência da infância. O filho encolheu-se no chão, recostou a cabeça no colo da mãe e viu nas rugas daquele rosto um motivo para sair do poço de estupidez e perturbação que pouco a pouco o afogava. A velha afagou os cabelos do filho e disse com a voz mais aveludada que existe: - Volta para casa. O seu quarto, suas coisas, o meu amor e tudo o que você abandonou continuam como esse carrinho, intactos.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

"E eu sou só mais um desses meros tão mortais"


Não sei quem está certo em toda essa história. Você me acusa de uma porção de coisas, diz que sou negligente, frio, distante e o diabo. Já objetou acerca de minha previsibilidade e taxou de monótonos os nossos momentos. É tão mais simples identificar o que nos incomoda, não é? Parece que o que nos perturba no outro está sempre à flor da pele, pura e translucidamente perceptível. É. Os sinais de cisão vieram mais cedo do que imaginara. E eu que pensei que isso fosse característico de relacionamentos longevos. Engano meu.
Peço-te perdão. Reconheço que, às vezes,aparento pairar em minha própria órbita. Admito que posso ser incoerente, e até leviano em certos aspectos. Mas, por favor, não me ultraje a ponto de lançar apenas sobre mim o fardo de nossos problemas. Vasculhe sua conduta e verá que em muitas coisas você também tem sido falha. Faça isso sem medo ou culpa. Não há condenação em reconhecer nossas debilidades.
Sabe, sinto o fato de você ater-se a nomenclaturas e simbolismos. Em minha humilde concepção, penso que o que significamos um para o outro é que deveria estabelecer nossas diretrizes. Acho que nossos rostos e a aparente felicidade é que deveriam estampar nossa consideração mútua.
Peço que você não me idealize, seria uma tarefa absolutamente vã. Peço que não me cobre, que não reduza o que há entre a gente a um mero compromisso pré-estabelecido. Desejo sinceramente que deixemos ser, deixemos estar. Quero que aproveitemos e saibamos destilar o que há de melhor em nossa essência. Espero de verdade que façamos valer a pena, que lancemos ao rol dos momentos memoráveis cada peculiaridade do tempo que passamos juntos. Eu ainda estou disposto a isso. E você?

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Beginnig


Sinto-me meio cansado, desmotivado. E isso não tem nada a ver com ninguém, a não ser comigo mesmo. Talvez eu não seja maduro o bastante para levar coerentemente minha semi vida adulta. Gostaria muito e receio que eu realmente necessite de férias. Deixar para trás velhos (e queridos) rostos, contas pendentes, livros a serem lidos e filmes por assistir, e todos os protocolos e rituais de minha rotina, nem que fosse por um curto espaço de tempo seria, no mínimo, aliviador.

Às vezes penso que tudo o que precisamos é esquecer (d)a vida, para quiçá então vivê-la intensamente. Esta seria uma bela frase, não fossem o ônus e as dificuldades que pô-la em prática implicam.

Dois mil e dez está só começando. Nos primeiros instantes de sua chegada não fiz nenhum pedido em especial e tampouco estabeleci metas para o novo ano. Acho que tudo o que desejo são conversas espontâneas, sussurros ao pé do ouvido, olhares e sorrisos sinceros e abraços apertados de braços acolhedores. Em 2010 quero mais noites sem dormir, quero minha risada fácil, quero beijos intermináveis. Peço que este ano me preseteie com alegres banhos de chuva, com café e cama quentinhos, com mais adrenalina nas veias.

Ao fim deste ano quero rever meu baú particular, e me certificar de que valeu a pena acumular toda a bagagem ali contida.