sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Vem comigo?


Você se surpreenderia se eu te fizesse uma proposta absurda? Tão indecorosa quanto gargalhadas em meio ao caos? Você estranharia se eu dissesse que já não tenho a mesma vontade de perseguir velhos sonhos? Você condenaria a minha inconsequência se eu resolvesse parar com tudo isso? É que estou cansado, sinto que meus pés vacilam e que a mente anela por novos ares.
Não sei você se entregaria a tal loucura, mesmo assim insisto na pergunta. Vem comigo? O lugar exato ainda é desconhecido, e o que faremos quando chegarmos lá quem vai decidir é o acaso. A única coisa de que tenho certeza é que não quero prazo para voltar ou preocupações que importunem minha mente. Pense em como seria fantástico! Sumiríamos bem cedinho, antes mesmo de o Sol raiar. Aos nossos queridos, diríamos apenas que decidimos dar um tempo, explicaríamos que os nossos celulares permaneceriam desligados, mas que ficaríamos bem.
Pelo caminho, observaríamos as montanhas e os olhares daqueles que habitam os vilarejos que circundam as auto-estradas. Isso é tão estimulante para você como é para mim? Ah, só em pensar que nossos credores encontrariam a casa vazia quando viessem nos procurar... Que ligariam repetidas vezes e em vão deixariam mensagens na secretária eletrônica... Sinto-me envolto num lampejo da mais perfeita paz só em me imaginar adormecendo e acordando ao seu lado. Enquanto estivéssemos lá o tempo escorreria por nossos dedos, e nós, é claro, não atentaríamos para qualquer coisa desse tipo, já que seríamos o bastante um para o outro.
Depois que estivéssemos refeitos, cheios da perspicácia necessária para enfrentar a insanidade que há por aqui, nós arrumaríamos nossas malas e compraríamos um simpático souvenir. Só então, já com a saudade característica dos dias belos, retornaríamos às nossas atividades habituais. No entanto, faríamos um juramento, eu prometeria que a essa fuga seria repetida sempre que preciso fosse, e você, aceitaria me acompanhar por onde quer que eu fosse.

“E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada”

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Eu? Incógnita.


Para muita gente falar de si mesmo não é tarefa fácil. Alguns são ótimos em análises psicológicas alheias, mas esmorecem quando se trata de reconhecer os próprios defeitos ou simplesmente fazer uma breve leitura do seu ser. Definitivamente, eu não sou desses. Ao contrário, às vezes despendo tanta atenção explorando o que me faz mal ou superestiamando os meus complexos que vez ou outra ouço: “credo, cadê sua auto-estima?”.
Não, esse não será mais um texto em que eu abordarei minhas desventuras, lembrarei com carinho e saudade as coisas passadas ou traduzirei meu estado de espírito. Por hoje está de bom tamanho uma reflexão introspectiva acerca de mim mesmo.
Àqueles que não me conhecem, apresento-me, Danylo, 19 anos. Dispenso mais descrições, mesmo assim, vale salientar, não sou o tipo de cara que por onde passa monopoliza as atenções femininas. Não cultivo um corpo atlético e muito menos sou um desportista, apesar de eu já ter me aventurado em bater uma bolinha e terminar de maneira digna uma partida de voleibol. As pessoas dizem que sou desengonçado, que não me veem desenvolvendo uma atividade física sem arrancar risos de quem está por perto. Acho que elas me convenceram disso e em parte estão certas, ultimamente tenho sido um perfeito sedentário.
Nota-se em mim uma ansiedade que às vezes chega a ser exacerbada. Eu bem que tento dosá-la da melhor maneira possível, mas nem sempre obtenho êxito. Esse, inclusive, foi um dos motivos pelos quais fui parar na terapia quando pré-adolescente. Não poderia deixar de mencionar a minha capacidade de dramatização, é claro que faço uso dessa habilidade em junção com o humor. “-Fulana está enjoada. -Ih, deve estar grávida!”. “-Acho que não vou te ver amanhã. – Está me evitando, certeza!”. :D
Trabalho 220 horas mensais com algo que não tem nada a ver com minha área de formação. Isso por algumas centenas de reias que no fim do mês eximem minha família de gastar ainda mais com a minha existência (dessa vez não estou dramatizando!). Não escrevo tão bem quanto a maioria dos alunos da minha sala e estudo sempre nas vésperas de provas. No primeiro semestre me rendi ao sono em plena aula pelo menos duas vezes, talvez por conta disso eu também não tire as melhores notas. Ah! Só para mencionar, eu não tenho a mínima ideia de qual linha jornalística desejo seguir. Todavia, estou sossegado quanto a isso, já que conheço alunos do segundo e terceiro ano que ainda carregam dúvida similar.
Há quem me julgue alguém sem sal nem açucar, uma passoa previsível. Há quem me ache engraçado e valorize o fato de eu curtir um acalorado debate. Uns dizem que sou implicante e volta e meia possessivo. Outros me consideram um bom amigo, companhia para todas as horas. Não corresponder a certas projeções pode ser decepcionante, mas juízos de valores pouco importam. Todos sabemos que é no recôndito de nosso ser onde fica guardado o melhor de nossa essência. O que destilamos para aqueles que estão à nossa volta é apenas parte do que realmente somos.
As incertezas são muitas e constantes, a insegurança acerca do futuro é recorrente. Mas o fato de eu ter o tímido vislumbre de quem quero ser e onde quero chegar já um bom indicativo de que estou no caminho certo.

sábado, 22 de agosto de 2009

Você


Você é como um poço de dualidades. Ao passo que, vez ou outra demonstre docilidade e complacência, na maior parte do tempo a resposta aos eventuais questionamentos estão sempre à boca. Todas as suas ideias e conceitos parecem estar totalmente formulados, apenas esperando o momento oportuno de vir à tona. E quando é para colocar as cartas na mesa, você simplesmente o faz de forma transparente. Não que isso não abra margem à dúvidas, porque, às vezes, decifrar o que se passa em sua cabeça parece ser tarefa homérica. Você é tão decidida e segura se si, é como uma Rosa Parks dos anos dois mil, e não há ninguém que a convença de que o seu ideal não é importante o bastante. Com toda a beleza de que dispõe, você apenas ignora aqueles que, tolamente, julgam amorfos os seus pensamentos ou antiquados os seus princípios. Te observar e entender é como apreciar o resultado do árduo trabalho de um pintor expressionista, embora explícitas algumas características, há sempre uma reflexão individual e subjetiva acerca do seu ser.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A ligação, o encontro


Nino custava a acreditar, estava novamente falando com aquela que há um tempo atrás preenchera sua mente com as mais belas fantasias e o fizera projetar experiências memoráveis a dois. Não que algum dia eles tivessem se afastado por completo, mas dessa vez era diferente.
A conversa fluia com a mesma naturalidade de um ano atrás, a mesma simplicidade que o havia levado a desbravar o terreno incerto de sentimentos que nem mesmo ele sabia nomear. Alice continuava a mesma, não havia nenhum sinal de alteração em sua meiguice e cortesia. O papo durou horas, ainda que pelo telefone, não houve quaisquer impecilhos para que os dois falassem sobre o trivial, contassem seus novos planos e marcassem de se ver. Apesar de cansado e preocupado com algumas pendências no escritório, Nino sentia-se leve, aquele telefonema o fizera dormir em paz.
O encontro não seria noturno, era melhor que a calmaria e a moderação da hora do almoço evidenciassem apenas o necessário, delineassem os fatores que poderiam os levar a uma possível negociação. Nino não se lembrava de como aquela mulher era formosa. Havia meses que ele não sentia o seu perfume ou observava calado aqueles trejeitos tão sutis. O rapaz já nem recordava que Alice usava piercing no nariz. Aquela peça reluzente realçava ainda mais o seu ar de menina, ao passo que seus olhos claros continuavam a ostentar a determinação que tanto o encantava.
Devido ao horário e as tarefas a cumprir, o almoço fora breve e o colóquio casual. Nino não esperava grande coisa daquele encontro, embora estivesse contente com o momento preferiu não se expressar de forma que a constrangesse, escolheu não se precipitar como outrora havia feito. De fato, os dois não falaram sobre sua vida em comum, não tocaram em assuntos passados e tampouco estabeleceram como haveria de ser dalí para frente. Ainda assim as coisas sucederam-se de forma bastante agradável, o que Nino julgava ser impossível após os desentendimentos que os haviam tirado de perto.
Naquela tarde o rapaz não conseguiu mais trabalhar, a todo momento parecia escutar o “R” acentuado que Alice levava à voz, tão diferente do som do seu “R” de paranaense interiorano. Por vezes ele caçoava dela por falar como paulistana, enquanto, aos risos, forçava o “R” ao dizer “alaRme”, “poRta”, “poRque”. Nino inventou ao chefe uma disculpa qualquer e pediu licença para passar o resto da tarde em casa. Estava chovendo e fazia frio, e até isso o fazia pensar nela, lhe trazia à memória as noites de inverno em que eles passavam um tempão falando sobre o cotidiano. Já em casa, o rapaz deitou-se confortavelmente em sua cama, acabou adormecendo. Não houve trégua mesmo assim, em seus sonhos Alice aparecia serena e sorridente, tão feliz quanto as cores do cachecol multicolorido que ela usava no dia em que o conhecera.

domingo, 16 de agosto de 2009

Depois que a noite terminou


Depois de todas aquelas horas, quando enfim o Sol entrou por entre a cortina mal fechada, levantei-me, apanhei minhas roupas espalhadas pelo chão e evitei ao máximo fazer barulho. Ela estava lá, nua e inerte sob o lençol de seda preta. O carimbo de meus dentes em seus ombros e a garrafa de vinho tinto abandonada junto à parede denunciavam detalhes de algo que não deveria ter acontecido. Não daquela forma, não depois de toda a estranheza percebida em seus olhares e gestos nos momentos que antecederam nossos desatinos.
Enquanto me vestia procurei não olhá-la novamente. A sobriedade matinal, acrescida à razão que ainda me restava insistiam em questionar o por que daquela noite. Por um momento eu tentei me auto-justificar, explicar para mim mesmo que não fora de todo um erro eu ter aceitado o seu convite para entrar, beber alguma coisa e conversar um pouco. Mas não havia uma explicação coerente.
Ora, já havíamos conversado. Ou melhor, ficamos um bom tempo juntos e nenhum papo bacana tinha vindo à tona. Nada que tivesse funcionado como prefácio para uma noite a dois. Laura estava distante, parecia constrangida, receosa. Durante aquelas horas falamos sobre o trivial, como amigos que não se viam há alguns meses e não sabiam como quebrar os protocolos, passar à intimidade costumeira. Mesmo assim eu entrei, e foi dessa forma que tudo aconteceu. Cada um fez o que deveria, experimentou as devidas sensações e ponto. Nossos corpos se entenderam, houve o deleite habitual. Entretanto, agora que o dia amanhecia, pude sentir que tudo não passara de um intenso ritual de volúpia, despojado do carinho ou da interação de outrora.
O que lhe preocupava, lhe tirava a paz e a naturalidade eu desconhecia. Laura, por sua vez, preferiu fingir não havia nada errado. Acho que o vazio no pequeno apartamento e a solidão em sua cama quando ela despertar deve dizer alguma coisa. Calcei os meus sapatos, guardei no bolso a chave do carro e lavei o rosto. Abri a porta cautelosamente e saí, deixei o banho e o café forte para tomar em casa. Talvez Laura telefone quando se acertar, antes disso ficarei na minha, não quero repetir o erro de ter junto a mim o seu corpo enquanto sua alma voa longe. Se não é por completo, a metade eu também não quero.

sábado, 15 de agosto de 2009

"Repeat" Compulsório


Há tempos que me sinto assim, cansado e um tanto incomodado com toda essa mesmice. Já ouvi dizer que toda rotina tem sua beleza, não sei, por mais que eu tente e me esforce para tanto não consigo enxergar graça na minha. A impressão que fica é a de que os meus dias se desenrolam e fluem como as águas de um extenso riacho de mediocridade.
Logo logo, um ou outro que se der ao trabalho de ler esse texto virá até mim dizer que eu não consigo escrever sobre coisas alegres, que eu pareço cultivar uma paixão recolhida pelo funesto, pelo pungente. E eu, mais uma vez vou dizer que isso não é verdade. Posso escrever sobre tudo o que me for solicitado, no entanto, há que se levar em consideração que no momento isso é tudo que me ocorre.
Não estou vivendo nenhum tipo de desgraça, não estou sendo vítima de coação, tampouco ando depressivo. Estou bem. Mas, sabe quando lá no fundo percebe-se que a estagnação vem corroendo aos poucos? Quando a cada dia a estabilidade lhe sorri dizendo: “Sou tão feliz por tê-lo ao meu lado!”... Ok, a companhia que ela me faz não é de todo ruim, até admito que me agrada um pouco. O problema é que a nossa união vem perdurando, isso cansa às vezes.
Refletir acerca disso é algo que cabe só a mim, tornar público o laudo dessas viagens é apenas consequência. A excitação e o contentamento a gente vive, compartilha. O marasmo e a insatisfação a gente pode até comentar com os mais chegados, porém, pensar e agir no sentido de transpor tal situação é tarefa individual, na maioria das vezes. Agradeço aos amigos de sempre, aos bons e velhos e aos novos também. Continuo dando o devido valor a tudo aquilo que para mim vocês representam, mas por hoje quero ficar só. Quero conversar com meus botões e vasculhar toda essa falsa complexidade, mas por pouco tempo, espero.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Memoráveis detalhes


E de repente bateu aquela nostalgia, sabe? Não sei explicar ao certo, mas de uma hora para a outra foi como se me viesse uma estranha vontade de voltar atrás. Retornar aos anos em que preocupações quanto ao futuro não habitavam minha mente, voltar no tempo, para a época em que tudo era simples e a realidade não passava de uma conhecida distante.
Vira e mexe recordo as pessoas e as situações vividas outrora, me agrada cultivar certo saudosismo, apesar de minha mãe sempre dizer que “relembrar o passado é sofrer duas vezes”. Não concordo com essa afirmação. Para mim, trazer à memória coisas passadas é como assistir a um filme novamente. Simples assim, rir novamente das cenas engraçadas, torcer de novo para os casais ficarem juntos, perceber um detalhe ou outro que à primeira vista passou despercebido, cantar e dançar novamente ao som daquela trilha sonora bacana, e, se for o caso, chorar outra vez. A memória nos permite, em cada época de nossa vida, observar com novos olhares os caminhos já percorridos, dar novas interpretações àquilo que antigamente julgávamos prejudicial ou imprescindível.
É claro, existem lembranças que são como doenças mal saradas, parecem ter ido embora, no entanto, sob determinada conjuntura, voltam à tona trazendo dor ou despertando sentimentos negativos. Apesar disso, não abro mão de minhas memórias, acho que não as trocaria por nada, penso que elas foram essenciais na construção da minha personalidade.
Hoje senti tanta saudade, por um momento desejei ter outra vez comigo as velhas companhias, ter por perto a beleza dos velhos sorrisos e o conforto dos abraços que ainda insistem em resistir ao tempo. Embora ele seja tão implacável, sou grato ao senhor tempo por ele ter esquecido de me fazer esquecer simples porém preciosos detalhes.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Tímida, mas importuna apreensão


Pelo visto a mais nova “peste globalizada” chegou mesmo a Londrina. Até pouco tempo atrás não passava de uma mazela distante, que assolava os países da América do Norte e da Europa, hoje, essa é uma realidade presente. De fato, este é o assunto mais recorrente nas rodas de amigos, entre os passageiros dos ônibus, os idosos nas praças. As várias pessoas usando máscaras ao andar pelo calçadão, os cerca de 300 atendimentos diários de casos suspeitos no Pronto Atendimento Municipal só ratificaram, o medo começou a rondar a cidade.
Medidas visando conter a disseminação do vírus foram tomadas em todo o Brasil, por aqui não foi diferente, escolas municipais, a rede estadual e particular de ensino, a UEL e as demais universidades e faculdades suspenderam suas atividades. Não que eu esteja desmerecendo ou questionando a eficácia de tais ações, mas os shoppings continuam lotados, os coletivos (e eu digo por experiência própria) seguem pingando gente! Será que não restou nenhuma proposta a ser aplicada nesses casos? Não estou defendendo que todos fiquem trancados em suas casas, que as pessoas deixem de se abraçar ou beijar ou que se instaure uma grande paranóia, no entanto, é fácil compreender que esses locais representam perigo de contágio tanto quanto as instituições de ensino.
Chega a ser engraçado, instalou-se entre a população um incômodo receio em relação àqueles que, mesmo de longe, espirram, tossem ou levam um lenço de papel ao nariz. Semana passada não pude evitar de sentir uma pontinha de raiva de uma senhorinha que sentou-se perto de mim no ônbus, a infeliz tossia repetidas vezes, e sem ao menos pôr a mão na boca! É, nem todos estão a par ou são sensíveis ao que está acontecendo, e nem todos aprenderam quando pequenos que esse tipo de coisa é falta de educação.
Só sei que essa pandemia vem dando o que falar, eu não nego, também sinto certo temor. Temor em saber que isso agrava ainda mais a situação da já debilitada saúde pública brasileira, temor ao assistir casos tão tristes de pessoas jovens morrendo e famílias sendo desfeitas. Mas fatalidades acontecem, essa não foi a primeira, e creio que nem será a última doença de proporções globais a acometer o homem. Torçamos para que tudo entre nos eixos novamente, para que os danos sejam os mínimos possíveis e para que não sejamos as próximas vítimas. Eu, hein! =O

sábado, 1 de agosto de 2009

Carta a um irmão amigo, ou o inverso.


Amanhã, dia dois de agosto, é um dia especial, é seu aniversário. Você está tão longe, não poderei sequer dar-te um abraço, mas espero que essas singelas palavras sejam capazes de traduzir o quanto o estimo e faço votos de que sejas feliz.
Há exatos 30 anos você nascia, num ambiente familiar instável e conturbado você cresceu. Desde muito pequeno sabia que a vida não era como nos desenhos animados, prematuramente aprendeu o valor e a importância do trabalho. Eu, é claro, conheço essa realidade apenas por relatos, mesmo assim, sei que não foi fácil para você nem para ninguém.
Os tempos mudaram, a sua vida também mudou. Lembro-me das várias vezes em que fora à porta do colégio resolver minhas pequenas encrencas, era bacana saber que eu tinha com quem contar. Histórias e mais histórias, isso você tinha aos punhados, desde travessuras extremamente elaboradas como bombinhas presas nas caldas dos gatos até as mais inusitadas narrações sobre a sua paixão por motocicletas. A propósito, confesso que foi em sua companhia que vivi momentos de terror sobre duas rodas, de carro não era muito diferente, engraçado como você era afeiçoado por cavalos-de-pau (haha), eu é que nunca gostei de viver perigosamente.
Você, como todo mundo, teve seus deslizes, mas não cabe a mim julgar suas falhas ou ilicitudes. O que eu quero hoje é dizer que não importam as nossas divergências, nem a diferença de idade ou o nosso modo particular de enxergar o mundo. O que nos une é muito mais que o laço materno, creio que além de respeito e afeto, hoje há admiração e cumplicidade nesse conjunto. Sei que você tem passado por um tempo difícil, permanecer afastado daqueles que lhe querem bem é tarefa para poucos, apesar de tantos entraves você tem se saído bem em mais esse desafio. Saiba que me orgulho muito de você e não vejo a hora de as coisas estarem nos conformes novamente. Estamos distantes milhares de quiômetros, no entanto, não há distância capaz de apagar o carinho ou dissipar a energia positiva vinda daqueles que conosco se preocupam. Amanhã será um dia de festa, não quero saber de outra notícia senão a de que esse pequeno apartamento catalão se transformou numa bela farra, tal qual a que faremos para celebrar o seu retorno.
Feliz aniversário!