domingo, 16 de agosto de 2009

Depois que a noite terminou


Depois de todas aquelas horas, quando enfim o Sol entrou por entre a cortina mal fechada, levantei-me, apanhei minhas roupas espalhadas pelo chão e evitei ao máximo fazer barulho. Ela estava lá, nua e inerte sob o lençol de seda preta. O carimbo de meus dentes em seus ombros e a garrafa de vinho tinto abandonada junto à parede denunciavam detalhes de algo que não deveria ter acontecido. Não daquela forma, não depois de toda a estranheza percebida em seus olhares e gestos nos momentos que antecederam nossos desatinos.
Enquanto me vestia procurei não olhá-la novamente. A sobriedade matinal, acrescida à razão que ainda me restava insistiam em questionar o por que daquela noite. Por um momento eu tentei me auto-justificar, explicar para mim mesmo que não fora de todo um erro eu ter aceitado o seu convite para entrar, beber alguma coisa e conversar um pouco. Mas não havia uma explicação coerente.
Ora, já havíamos conversado. Ou melhor, ficamos um bom tempo juntos e nenhum papo bacana tinha vindo à tona. Nada que tivesse funcionado como prefácio para uma noite a dois. Laura estava distante, parecia constrangida, receosa. Durante aquelas horas falamos sobre o trivial, como amigos que não se viam há alguns meses e não sabiam como quebrar os protocolos, passar à intimidade costumeira. Mesmo assim eu entrei, e foi dessa forma que tudo aconteceu. Cada um fez o que deveria, experimentou as devidas sensações e ponto. Nossos corpos se entenderam, houve o deleite habitual. Entretanto, agora que o dia amanhecia, pude sentir que tudo não passara de um intenso ritual de volúpia, despojado do carinho ou da interação de outrora.
O que lhe preocupava, lhe tirava a paz e a naturalidade eu desconhecia. Laura, por sua vez, preferiu fingir não havia nada errado. Acho que o vazio no pequeno apartamento e a solidão em sua cama quando ela despertar deve dizer alguma coisa. Calcei os meus sapatos, guardei no bolso a chave do carro e lavei o rosto. Abri a porta cautelosamente e saí, deixei o banho e o café forte para tomar em casa. Talvez Laura telefone quando se acertar, antes disso ficarei na minha, não quero repetir o erro de ter junto a mim o seu corpo enquanto sua alma voa longe. Se não é por completo, a metade eu também não quero.

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