quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A ligação, o encontro


Nino custava a acreditar, estava novamente falando com aquela que há um tempo atrás preenchera sua mente com as mais belas fantasias e o fizera projetar experiências memoráveis a dois. Não que algum dia eles tivessem se afastado por completo, mas dessa vez era diferente.
A conversa fluia com a mesma naturalidade de um ano atrás, a mesma simplicidade que o havia levado a desbravar o terreno incerto de sentimentos que nem mesmo ele sabia nomear. Alice continuava a mesma, não havia nenhum sinal de alteração em sua meiguice e cortesia. O papo durou horas, ainda que pelo telefone, não houve quaisquer impecilhos para que os dois falassem sobre o trivial, contassem seus novos planos e marcassem de se ver. Apesar de cansado e preocupado com algumas pendências no escritório, Nino sentia-se leve, aquele telefonema o fizera dormir em paz.
O encontro não seria noturno, era melhor que a calmaria e a moderação da hora do almoço evidenciassem apenas o necessário, delineassem os fatores que poderiam os levar a uma possível negociação. Nino não se lembrava de como aquela mulher era formosa. Havia meses que ele não sentia o seu perfume ou observava calado aqueles trejeitos tão sutis. O rapaz já nem recordava que Alice usava piercing no nariz. Aquela peça reluzente realçava ainda mais o seu ar de menina, ao passo que seus olhos claros continuavam a ostentar a determinação que tanto o encantava.
Devido ao horário e as tarefas a cumprir, o almoço fora breve e o colóquio casual. Nino não esperava grande coisa daquele encontro, embora estivesse contente com o momento preferiu não se expressar de forma que a constrangesse, escolheu não se precipitar como outrora havia feito. De fato, os dois não falaram sobre sua vida em comum, não tocaram em assuntos passados e tampouco estabeleceram como haveria de ser dalí para frente. Ainda assim as coisas sucederam-se de forma bastante agradável, o que Nino julgava ser impossível após os desentendimentos que os haviam tirado de perto.
Naquela tarde o rapaz não conseguiu mais trabalhar, a todo momento parecia escutar o “R” acentuado que Alice levava à voz, tão diferente do som do seu “R” de paranaense interiorano. Por vezes ele caçoava dela por falar como paulistana, enquanto, aos risos, forçava o “R” ao dizer “alaRme”, “poRta”, “poRque”. Nino inventou ao chefe uma disculpa qualquer e pediu licença para passar o resto da tarde em casa. Estava chovendo e fazia frio, e até isso o fazia pensar nela, lhe trazia à memória as noites de inverno em que eles passavam um tempão falando sobre o cotidiano. Já em casa, o rapaz deitou-se confortavelmente em sua cama, acabou adormecendo. Não houve trégua mesmo assim, em seus sonhos Alice aparecia serena e sorridente, tão feliz quanto as cores do cachecol multicolorido que ela usava no dia em que o conhecera.

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