sábado, 17 de outubro de 2009

Sobre a reportagem fotográfica e suas resultantes


O alarme do celular despertou às 7h15, e isso em pleno sábado. O dia amanhecera feio, cinzento. Lá fora a chuva caia forte, me atraia de volta ao edredom. Cochilei por mais alguns momentos, espertava os ouvidos para saber se o aguaceiro havia dado trégua, que nada. Após ter ido me deitar quase às 4h30 da manhã, tudo o que eu queria era aproveitar o calor e o conforto da minha cama, mas isso não era possível, existia uma pauta para eu cobrir, da disciplina de fotojornalismo.
Tomei coragem e arrastei-me vacilante até o telefone. Disquei alguns números e desejei muito que a voz do outro lado da linha me dissesse que o evento havia sido cancelado por causa da chuva. No entanto, só em pensar em montar e cobrir outra pauta, e isso para a próxima quarta-feira, já me desanimava. A pessoa que atendeu informou-me que apesar do temporal as atividades programadas já estavam em andamento, e que ocorreriam até o meio dia, diferentemente do que eu havia pautado (18h00). Não tinha como fugir. Arrumei-me depressa, preparei câmera, caderno e caneta, tomei uma xícara grande de café e mais três cápsulas de guaraná, por sorte e num surto eventual de bondade minha mãe liberou o carro e até decidiu me acompanhar.
O tal evento foi intitulado de “Viver aqui é bom demais”. Vou logo explicando: a ideia partiu de um grupo de médicos que, interessados em promover algo filantrópico, decidiram estender seus serviços àqueles que não podiam pagar e buscaram o auxílio do município. Eles encontraram respaldo da prefeitura, que também topou o desafio. Dessa forma, a administração municipal leva, por meio de todas as suas secretarias mais a iniciativa privada, diversos serviços à comunidade. Alguns deles são: atendimento médico grátis e realização de exames para idosos previamente cadastrados nos postos de saúde, corte de cabelo, esclarecimentos na área jurídica, checagem de vagas de trabalho pelo SINE, recreação infantil com profissionais de educação física, registro e renegociação de dívidas junto à COHAB, capina e roçagem de terrenos, pintura e recapeamento de vias etc., tudo visando elevar a auto-estima dos moradores da região e dar “um novo visual” ao ambiente onde eles vivem.
E sabe que isso tudo foi apenas parte do que vi? A gratidão estampada no olhar das senhorinhas que saiam da sala do cardiologista, a felicidade do velhinho por enfim realizar seu exame de vista, tão demorado quando pelo SUS, essas coisas não passíveis de serem retratadas em palavras. A emoção da mãe e da família, constituída de cindo filhos mais o marido, em ver a imagem de ultrassom do próximo membro familiar através da barriga já saliente foi, sem dúvida, algo muito especial. O corre-corre das crianças, devidamente providas de biscoito de polvilho e algodão doce, exalava uma alegria singela e contagiante.
Essa foi de longe uma das experiências mais bacanas que vivi no curso de Jornalismo. Médicos das mais diversas especialidades, dentistas, terapeutas, especialistas em estética, pessoas voluntárias, muitas delas abastadas, ajudando com a maior gentileza e simpatia a seus semelhantes, que vivem a quilômetros do centro da cidade, numa realidade totalmente diferente da deles. É bom saber que ainda há quem se importe com os outros, que ainda há quem se sensibilize com a pobreza, com a falta de oportunidades, com a desestrutura familiar. No momento, minha vida está uma verdadeira correria, não tenho feito muita coisa nesse sentido, acho que meu gesto mais altruísta tem sido doar sangue, ritual que renovo a cada dois meses. São só 410 / 430 ml, mas penso que já é um começo.
Sinto-me feliz por essa manhã de sábado, e tenho certeza de que estaria arrependido se houvesse me rendido às atrações de minha cama. Mesmo que o professor julgue ruim as fotografias em primeiro plano e plano médio, mesmo que a variação das tomadas tenha sido insuficiente ou de baixa qualidade técnica todo o conjunto, dessa vez tudo valeu a pena!

3 comentários:

  1. Fotografar eh a Arte De Falar Com os Olhos.!
    Você eh ótimo nisso Dan.!

    ;*

    ResponderExcluir
  2. Dan,
    meus parabéns pelo post (como sempre), pela foto que ficou muito fofa e por fim, por decidir sair da cama, tenho certeza de que isso te ajudou e muito, não só 'instantaneamente' como daqui a algum tempo, você vai ver como foi importante tomar essa decisão. se um dia eu puder participar de mais alguma atividade como essa, me avise, ficarei feliz em ir! :)

    sinto saudades de você, é sério.
    /cachecolcolorido

    ResponderExcluir
  3. Éééé Veterano, rs... na minha vida eu vejo muito disso! Gostei dessa parte: "É bom saber que ainda há quem se importe com os outros, que ainda há quem se sensibilize com a pobreza, com a falta de oportunidades, com a desestrutura familiar." É bom tbm saber que ainda há pessoas que reconheçam isso! Párabens:D... o texto tá lindo e a foto tocante! Deus abençõe você ;D ass. Ananda (caloura rs)

    ResponderExcluir