domingo, 25 de outubro de 2009

Opinião: o brasileiro e sua vida virtual


É cada vez maior o número de brasileiros conectados à internet. Isso se deve principalmente à popularização das lan houses, mas também há outros fatores, como a ampliação de linhas de crédito exclusivas para a aquisição de computadores de baixo custo. De uns tempos para cá, com o crescimento da renda média do brasileiro, milhões de famílias tiveram acréscimo de seu poder aquisitivo ou incluíram-se na chamada “classe média”. Podemos dizer que a íntima relação que o país tem estabelecido com a rede mundial de computadores é perfeitamente aceitável. E por que não, previsível?
Ah! Não podemos deixar de dar crédito ao mais famoso site de relacionamentos da rede, o Orkut. Comumente encontramos pessoas que jamais haviam acessado a internet solicitando aceitação como amigo virtual. Nada contra o site e seus usuários, até mesmo porque também conservo o meu perfil por lá. Mas o que se mostra preocupante é banalização desta ferramenta comunicacional. Há algum tempo atrás o álbum virtual do Orkut comportava apenas dez fotos, esse número foi aumentando, hoje o site é capaz de armazenar cerca de 1000 fotografias. Arrisco a me dizer que o site ajudou a trivializar aquilo que outrora fazíamos como forma de eternizar um momento, torná-lo memorável. Parece-me que atualmente adolescentes e jovens utilizam suas câmeras digitais ou as câmeras de seus modernos celulares apenas para atualizar seus respectivos profiles. E é sempre assim, um passeio pelo shopping, foto para o Orkut, viagens ou apenas visitas à lugares diferentes, dá-lhe atualização, o barzinho ou a balada da última noite, fotos novas no álbum. É facilmente perceptível que muita gente vem utilizando de sites de relacionamento como ferramenta de auto-afirmação, os álbuns e perfis reduziram-se a meros instrumentos de exibicionismo, em que o internauta mostra “o quanto é popular” ou tem uma vida agitada.
A bola da vez agora é o Twitter, uma rede social cuja principal característica é a comunicação rápida e instantânea, já que os tweets, como são conhecidas as postagens dos usuários, podem conter no máximo 140 caracteres. Há quem diga que o Twitter está abalando as estruturas no jornalismo convencional, posto que em alguns casos ele desbancou até os consagrados emissores de informação. Foi o caso da maior onda de protestos desde a Revolução Islâmica de 1979, deflagrada após a votação que reelegeu o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad como presidente do Irã. Centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas com manifestações, e tudo, é claro, era postado detalhadamente em tempo real no Twitter. As mesmas twittadas foram o meio pelo qual manifestantes informavam uns aos outros onde encontravam-se os militares subordinados à força nacional, a fim de evitar que mais protestos fossem reprimidos. A CNN só conseguiu realizar uma cobertura decente três dias depois. E tudo porque a polícia fez marcação cerrada contra a imprensa. No caso dos manifestantes isso não foi empecilho.
A velocidade das informações disseminadas pelo Twitter é uma das prerrogativas de que dispõe a rede social. Michael Jackson morreu às 17h26 do dia 25 de junho, pouco tempo depois um site de fofocas estampou a notícia. Twitteiros espalharam freneticamente a notícia e em questão de minutos internautas do mundo todo sabiam da morte do astro pop. Isso, ao mesmo tempo em que os grandes veículos de imprensa como CNN e The New York Times noticiavam apenas que o cantor estava internado. Esperavam confirmação advinda de fontes mais confiáveis para só então apresentar o fato da maneira como as informações preliminares indicavam. É nesse ponto que uma ponderação em relação às vantagens do Twitter como veículo de informação deve ser feita. A intenção de seus usuários é publicar rapidamente uma mensagem, não checar suas informações. Dessa forma, a veracidade dos fatos pode ficar comprometida, já que os tweets são carregados de afirmações unilaterais, são o que o usuário afirma e pronto. No jornalismo comum os fatos são observados, pesquisados, rechecados, para só então uma possível matéria ser editada e publicada.
Voltando à simpática relação entre os brasileiros e a internet, o que tem de ser dito é que muitos cidadãos têm sido privados conscientemente de suas vidas reais por optarem por ficar horas e horas na frente do MSN, em salas de bate-papo ou visitando perfis de Orkut. O que observamos é uma super valorização da vida social digital do internauta, talvez ele tenha 300, 400, 500 amigos no Orkut mas não receba sequer uma ligação desejando-lhe um bom fim de semana. As pessoas conhecem-se pelo Orkut, trocam scraps e até e-mails, no entanto, o que sabem a respeito uma das outras é apenas aquilo que o outro desejar mostrar. E todos sabemos que não é nada difícil exibir “uma outra vida” através da telinha do computador.
O Orkut está presente em toda a rede mundial de computadores. Não parece interessante que ele tenha alcançado tamanha notoriedade e importância (na vida de alguns) somente no Brasil? Esse dado evidencia que nossos internautas podem estar exagerando na dose, substituindo sensações, emoções e experiências de verdade por imagens, fotos e caracteres enquadrados em seus monitores.
É louvável que o país esteja incluindo-se na era digital, assim como é muito bem vinda a democratização do acesso à informática e a crescente leva de brasileiros conectados. Entretanto, existem muitos outros fatores que devem ser observados com cautela. Quando mantemos certos avanços, ao passo que eles apresentam-se em detrimento da saúde física e mental (vida real relegada pela virtual) de nossa população é sinal de que algo está errado.

Um comentário:

  1. muito inteligente o seu post meu caro amigo Dan, mas acredito que essa tão exacerbada notoriedade do orkut não se deva ao fato de estarmos no Brasil, mas sim de que essa seja a mais 'famosa' rede de relacionamentos daqui, em uma reportagem recente que assisti na TV, informaram que em cada país ou região, existe um tipo de site de relacionamento que é 'top', nos EUA e maioria da europa, o facebook é como o nosso conhecido orkut, tão notorio quanto, ou quem sabe mais. Enfim, e só pra deixar claro que não se deve ligar o fato ao caso de sermos brasileiros, certo? (:

    (tentei falar tão bem qnt vc, mas acho que não deu ¬¬)
    /cachecolcolorido

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