sábado, 21 de maio de 2011

Educar para a vida

A divulgação de um capítulo do livro Por uma vida melhor, da professora aposentada de língua portuguesa da rede estadual de São Paulo, Heloísa Ramos, e o anúncio de que o Ministério da Educação (MEC) não alterará o sistema de escolha de obras didáticas, causou enorme polêmica nos últimos dias. Debates em torno do assunto colocaram em polvorosa a comunidade formadora de opinião e o tom geral é de escândalo. A publicação é destinada à educação de jovens e adultos e foi distribuída a 4.236 escolas espalhadas pelo território nacional. O livro versa sobre concordância verbal e nominal, defende o uso da linguagem popular, admite e legitima erros gramaticais graves como “os livro ilustrado mais interessante estão emprestado” e “nós pega o peixe”.

Mesmo sob duras críticas por parte de políticos, professores, jornalistas e da própria Academia Brasileira de Letras (ABL), a ONG Ação Educativa, responsável pela produção do livro, afirma que “de forma nenhuma” considera necessário o recolhimento dos exemplares. Linguistas solidários à causa da entidade e da autora dizem que condenações são infundadas e que há que se considerar as enormes diferenças entre língua culta e coloquial, atreladas, na maioria das vezes, à condição social do cidadão.

É claro que devemos compreender a evolução da língua e suas diferentes manifestações nos estratos sociais, entretanto, o que não se pode é endossar falhas grosseiras, ainda mais quando isso for feito com dinheiro público. Por uma vida melhor avisa que o português tal qual os exemplos do início deste texto pode gerar preconceito linguístico, mas não menciona o fato de que o português culto, formal é o cobrado em entrevistas de emprego e concursos públicos, por exemplo. Ora, estaríamos invalidando a função propulsora da educação se investirmos na manutenção do que é errado. Apesar das diversas particularidades de nossa língua como organismo vivo, o português oficial é um só e a forma como ele é ministrado não pode mudar em função da linguagem oral, que, como sabemos, é bem diferente da escrita. Ir contra o padrão da língua é como ensinar tabuada errada, é depreciar a escola enquanto instrumento de efetiva ascensão social.

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